quinta-feira, 28 de julho de 2011

Depressão - 2ª Parte

Sete horas, o despertador corta o silêncio do quarto. Roberto acorda assustado. Sua noite fora interrompida diversas vezes por um sonho estranho. Pensara na morte, na lembrança de sua esposa, dos anos de juventude, de uma antiga companheira da época do Jornal, Lúcia Maria, jornalista determinada que lutara pelos direitos da mulher em plena ditadura militar.
Meio cambaleando, Roberto encaminha-se à velha poltrona. Decorrido alguns minutos, a campainha toca. "Quem será? Há uma década que não recebo visita?", pensou.
Ao abrir aquela porta, seu coração dispara. "Será possível, depois de tantos anos?"
- Olá, Beto. Posso entrar?
- Fique à vontade, Lúcia. Sua casa, minha felicidade - brincou Roberto.
Com o sorriso em face, a velha companheira do Jornal entrou no apartamento. Olhou ao redor, alguns livros espalhados pelo chão, um estante apilhada de clássicos literários, uma escrivaninha de carvalho e a poltrona vermelha decoravam o ambiente.
- Como tem passado, meu velho amigo? - pergunta Lúcia.
- Solitário, com algumas poucas folhas e um dedo de prosa.
- Casou novamente?
- Não.
- E o pessoal do Jornal tem visto?
- Só o Manduca, durante os finais de semana na praça do quartel. Aliás, você, como tem passado? E o seu filho?
- Meu filhho está no Exército, há tempos não o vejo. Minha vida é uma página envelhecida pelo tempo, da qual o leitor nem se lembra dos fatos.
- Que trágica, Lúcia. Quando precisar de um amigo saiba que estou e que sempre estive por aqui.
- Obrigada, ainda nos veremos muito.
Depois dessa prosa amiga, Roberto e Lúcia se encontraram outras vezes, os laços do passado foram se estreitando até que juntos ficaram os anos da velhice. O amor não escolhe idade ou mesmo não se abala pelos anos, sempre se fortalece com os gestos de carinho e de afeto.

sábado, 23 de julho de 2011

Depressão

“Que manhã estranha! Será que estou acordado ou afundado em meio ao sonho?” pensou.
Após alguns minutos de pensamentos turvos, levantou-se e fora ao banheiro para se lavar. Olhou atentamente para aquele rosto, envelhecido pelo tempo, em que o espelho, um pouco embaçado pela poeira, revelava um senhor de cinqüenta anos. “Ah, como era bom meus anos de juventude”, pensou Roberto. Em sua juventude, ele aproveitara intensamente, casou após os trinta e sua esposa falecera num acidente depois de três meses. Não tivera filhos. Só tivera amargura e desgosto após a triste tragédia. Jornalista desempregado vivia de algumas pequenas escritas.
Caminhou até a janela do quarto, olhou para rua, pouco movimentada naquele dia. As nuvens passeavam ao longo, enquanto o sol tardava para aparecer, estava nublado. “Que dia, hein, São Pedro?” Invocar nomes de santos nunca fora seu forte, pois era ateu. Tivera uma educação cristã, mas com os eventos da vida, abandonara sua fé. Fora até a escrivaninha, sentou-se sobre a velha poltrona vermelha e começou a escrever sobre algumas poucas folhas de papel. O tempo voava, Roberto deixou-se mergulhar no turbilhão de idéias. Após horas a fio, voltou à cama para repousar. Seus escritos perderam-se durante a mudança, sua vida esvaiu-se naquele apartamento.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Convênio ou SUS?

Convênio ou SUS? Uma dúvida persistente por parte da população. Com o aumento do poder aquisitivo, a melhora no mercado econômico, além das oportunidades e garantias do emprego, uma parcela da sociedade brasileira tem optado pelo convênio em vez do SUS. As operadoras de serviços de saúde têm oferecidos alguns benefícios como hospedagem em hospitais de renome e exames de várias especialidades inclusos no contrato. Em contrapartida, atualmente, os benefícios tardam para se realizar, pois existe uma superlotação de consultórios a semelhança dos postos de saúde, em que o profissional é sobrecarregado de atendimento, com possibilidade de encaixes e sem pagamento de horas extras. O médico ao atender por um convênio qualquer recebe em média quinze reais por consulta, enquanto uma consulta particular custa em média cento e cinqüenta reais.
Outra dificuldade presente, nos convênios, é o tempo de espera para agendar uma consulta, a falta de secretárias para o atendimento, o atraso de médicos e a insatisfação dos clientes. Assim, alguns empecilhos travam o atendimento do convênio, enfocados somente no mercado. Tanto o convênio ou mesmo o SUS, quem sofre pacientemente em busca de tratamento é o povo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Fogo na cozinha

- Benhê, não faz assim – diz Marisa.
- Calmo, meu anjo, só um pouquinho. Já está quase pronto – responde Adalberto.
- Assim não, morzinho, está me deixando arrepiada.
- Estou quase no fim.
- Dal, você termina hoje ou não? Tem a novela das oito ainda.
- Minha flor, a novela você assiste no vale a pena ver de novo.
- Você está sentindo, Dal.
- Não.
- Já acabou, morzinho? Tem alguma coisa queimando.
- Imagina. Deve ser fora do prédio.
- Não. Tem alguma coisa queimando aqui no apartamento.
- Meu anjo, talvez seja só uma impressão.
- Adalberto, tem certeza?
- Ai meu Deus, esqueci.
- Esqueceu o quê?
- Na cozinha, antes de você chegar do serviço, eu estava preparando uma lasanha de surpresa – responde Adalberto
- Lasanha?
A partir daquele momento, Marisa proibiu expressamente do esposo cozinhar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Bilhete premiado

Não dava para acreditar. Finalmente conseguiu uma proeza, Salomão, um pobre pedreiro, recebeu uma ligação do Caixa Econômica. Após dois anos, ele vinha investindo certo capital, uma miséria para alguns, na capitalização do Caixa Econômica. Fora sorteado. Como bom vizinho na Vila da Cruz, bairro humilde, chamara os amigos para um churrasco no final de semana, comprara geladeira nova para a patroa e estava decidido a quitar as parcelas de sua casa. Maravilha, sempre concorrera em alguns concursos “chinfrins”, contudo, dessa vez, a sorte estava com ele.
Salomão andava pelas ruas, enquanto o pessoal do bairro cumprimentava-lhe:
- Parabéns Salo. O churras é domingo, né?
- Sim, espero vocês lá – dizia o sortudo.
No trabalho, um canteiro de obras no centro, os colegas de Salomão questionavam:
- Salo, conta pra gente, como foi que você teve a sorte grande?
- Ah, a sorte não escolhe hora, nem pessoa – respondia humildemente.
Ao amanhecer daquele dia, uma sexta-feira, Salomão acordou como de costume às seis da manhã. Tomou o café preto de desjejum e saiu para uma agência no centro. Depois da pequena maratona de uma hora preso em dois ônibus, ele chegou à Caixa Econômica. Cerca de quinze pessoas aguardavam a abertura do banco.
Nove horas badalava o sino da igreja. O guarda abria as portas do banco. Dentro de trinta minutos, Salomão recebia da atendente um envelope lacrado, após isso, ele saiu apressadamente. A dúvida percorreu o sortudo, “será que havia dinheiro no envelope?” ou “são apenas instruções?”.
Salo abriu o envelope e leu a carta de comemoração, parabenizando-lhe sobre a premiação com um ticket feijoada devido à abertura da agência Caixa Econômica de nº 500. Salomão, apesar de rico em sonhos, sentou no meu fio e chorou amargamente as despesas para o final de semana.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Legalização ou não da maconha

“Acende, puxa, prende e passa, índio quer cachimbo, um quer fazer fumaça...” Num primeiro momento, esse trecho da música Cachimbo da paz de Gabriel Pensador, pode ser sugestivo ou uma apologia ao uso da maconha como algumas autoridades sustentam seus discursos. A cannabis sativa, a planta que é fumada por diversos grupos sociais, principalmente entre os jovens, ganha espaço nas discussões do Congresso e nas repercussões da mídia. Até o Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, apóia a descriminalização e o uso regulamentado da maconha, além de outras medidas. A Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, composta por diversas autoridades argumenta que a criminalização por si não diminui a demanda, mas implica a geração de novos problemas, com possibilidade de extorsão de usuários e corrupção pela polícia. Basta recordar o peso da discriminação para com o usuário dessa droga ou mesmo simpatizantes pela causa são alvos de censura e agressão, exemplo vivo durante uma passeata em São Paulo, onde os jovens foram silenciados e presos pela polícia. A maconha possui substâncias causadoras de dependência física, química e psicológica, por onde o usuário adquire sensações de calma, relaxamento, angústia, incapacidade de se orientar no tempo/espaço, perda da memória, alucinações, problemas respiratórios, câncer, além de outros agravantes sociais, diminuição das atividades profissionais, agitação psicomotora, aumento da ansiedade e irritabilidade, prejuízo a concentração durante atividades como dirigir um carro, por exemplo. Outro caso atrelado ao uso de maconha é o narcotráfico, onde há uma movimentação legitimando o consumo desenfreado, inserido numa teia de relações de poder entre cartéis do crime organizado. A discussão da regulamentação ganha corpo e voz, em que a inserção da maconha no meio social traz consigo a modificação dos estratos da sociedade como educação, saúde pública e segurança. Logo, enquanto não há uma legalização efetiva sobre o consumo da droga, a atenção primordial é voltada sobre o jovem, principal afetado na sociedade de consumo, onde o proibido ainda desperta fantasias e alimenta o comércio discriminado da cannabis entre os fornecedores. Como diz o trecho seguinte extraído da tese de doutoramento, Nobres e anjos – um estudo sobre tóxicos e hierarquia de Gilberto Velho: “Usar maconha é uma atividade aceita e definida como normal. Mas o seu uso intenso, cotidiano, incomoda e pode aparecer como desvio. Neste caso se exerce um controle social dentro do grupo capaz de identificar desviantes, manipulando categorias da cultura dominante como ‘louco’, ‘doente’ e até ‘viciado’.”