sexta-feira, 27 de maio de 2011

Regra três


À tarde, quando o sol já no poente, chegava ele do serviço. Júlio era um pobre mecânico, mas um bom rapaz. Algumas vezes, na vida de casado, cometera alguns deslizes nas pequenas coisas. Marina, uma jovem bela, simpática e amiga, tudo suportara nesses três anos de casado. Fora uma boa ouvinte, porém o tempo desgasta as relações.
Por volta de agosto, Júlio abusou da regra três, onde menos vale mais; aprontou tantas, ofendera Marina na frente de seus parentes durante um churrasco; começara a beber com os amigos e estava ausente em diversas ocasiões do casal. A audácia do rapaz era tanta que esqueceu plenamente do aniversário de casamento. Marina, poço de doçura e perdão, da primeira vez, resolveu ficar, pois houve vários momentos felizes que deixaram raízes na relação do casal. Após uma semana, Júlio não compreendera que o perdão também cansa de perdoar.
Quando a noite chegou da farra, ele percebeu que a casa caiu, Marina deixara um bilhete. Terminou. Ela não suportava mais as extravagâncias de Júlio. O que acontecerá com o bom rapaz? Júlio, com a lâmpada acesa da sala, desatou a chorar ao ler tamanha punhalada. Resolveu ter uma bebida por perto para amenizar o sofrimento, perdera a única razão de seu viver. Marina se foi, adeus, perdeu a esperança. Assim, o jovem rapaz abusou da regra três onde menos vale mais...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Lotação


Lá vinha ele, cambaleando, meio sambista, meio puritano, Afrânio Souza, filósofo e contador de histórias. Trabalhava em repartição pública, nas horas vagas proseava com os amigos e as donzelas de rua. Bebia razoavelmente bem, o seu néctar era um bom vinho com alguns petiscos.
Nessa quarta feira, Afrânio fora encontrar um velho amigo de mocidade na rodoviária. O ônibus despontou no desembarque e lá estava Cruz de Malta Siqueira. Afrânio ao rever o velho amigo, cumprimentou dizendo:
- Cruz, quanto tempo, hein. Fez uma boa viagem? Como está a patroa e os bambinos? E sua cidade, Serra de Taboão?
- Compadre Afrânio, a viagem fora uma delícia, sacolejar de cá pra lá. Os meus estão bem, só minha tia, Dona Inocência, tem sofrido de gota, os ossos já não suportam o peso da idade. Minha cidade está na mesma serra, tranqüila e serena. – respondeu com ironia Cruz de Malta.
- Fico grato da visita, meu compadre. Vamos, a lotação nos espera – disse Afrânio
Lotação. Sim, foram os dois amigos para o terminal urbano. Cruz de Malta acostumado a andar a pé, ao adentrar naquele velho galpão, chamado de terminal, ficou assustado com o fluxo frenético do local. Pessoas, de lá para cá, passavam rapidamente, se esbarrando, conversando, enfim, utilizando o transporte público.
- Vamos Cruz. Vejo que está assustado? O terminal está vazio, hoje é quinta, mas segunda feira não condições de andar sossegado – disse Afrânio.
- Certamente, amigo – respondeu. Cruz de Malta imaginou uma segunda feira e aquele prédio lotado de pessoas, sem tranqüilidade.
Eles entraram no ônibus, linha Santa Helena. Mal se acomodaram num ferro, pois todos os assentos estavam ocupados, o ônibus deu uma guinada e partiu disparado para o destino. Pareciam surfistas do asfalto, a cada lombada os dois eram arremessados contra o teto.
Quando desceram no ponto. Cruz de Malta exclamou:
- Para que serve o transporte público?! É um teste de sobrevivência, com direito a altas aventuras a cada caminho.
- Um dia você ainda acostuma à selva de pedra e suas rotinas. – respondeu Afrânio.
À noite, os dois amigos ainda conversavam sobre lembranças de sua mocidade.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Enfermagem

No século XIX, uma mulher, inconformada com as condições existentes perante ao doentes, lutou por melhorias no tratamento para com o humano sofredor. Florence Nightingale tornou-se modelo do segmento da enfermagem ao introduzir uma assistência de cuidados com os soldados durante a Guerra da Criméia.
Hoje, a ciência do cuidado envolve o ser humano em suas dimensões pessoais e sociais, de modo a prevenir, promover e recuperar a saúde. Diante, a fragilidade na arte do cuidar, revela a força e esperança de melhora para com cada pessoa. Parabéns a todos enfermeiros (as), técnicos(as) e auxiliares de enfermagem, que o ideal de Florence se perpetue nos corações dos anjos guerreiros da saúde.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tristeza e fim


Os olhos estavam pesados, mal conseguia abri-los. Seu corpo permanecia imóvel, um sentimento estranho passou pela mente. Tentava com grande esforço levantar-se, porém nada acontecia. Um calafrio pela espinha. Olhou ao redor e pode ver pessoas de sua infância, conhecidos de sua família, estavam todos, chorosos, ao redor de si. Tentou lhes falar, nenhum resposta. O grito sufocado na garganta, a agonia e o desespero tomaram conta de Vinicius. Ao longe, um sino tocava lentamente. Um padre apareceu no local, será possível? Estou doente? Ao fechar novamente os olhos, jamais os abriu... O sino se silenciou no gramada da Ressurreição.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Zé Malandro e seus causos


Lá pelas bandas da Rua do Torto, vinha perambulando um velho moço, Zé Malandro. Malandro, como era conhecido pelas redondezas, aparentava seus 40 anos, pele morena, cabelos castanhos e olhos cor de mel. Sua vida, regada a boêmia e as necessidades da carne, fazia desta figura um “bom rapaz”, sempre alegre e dado as amizades. Alguns o consideravam filósofo de bar e poeta dos cantos.
- Alvorada lá no moro que beleza... – cantarolava Malandro.
- Lá vem o poeta e suas canções – afirmou João, o guarda.
Ao redor, numa mesa de bar, estava reunida a comitiva. Dentre as figuras ilustres, João, o guarda, Zezé Moleza, Ademar Trombeta e Carlos, o poeta. Estes boêmios de velha guarda sempre se reuniam as sextas no bar do Tico, seja para uma roda de samba e chorinho ou para discutir assuntos de política, futebol e as deusas que pernoitavam ao redor.
- João, como está a vossa senhoria? – perguntou Malandro ao se aproximar da mesa.
- Malandro, a que devo a honra de sua presença entre pobres mortais? Estou de vento e polpa, agora feliz com sua companhia – respondeu o Guarda, com certa ironia.
- Carlos, em toda sua poesia, você pode me dizer qual a mais bela flor de encanto e doçura existente no mundo? – indagou Malandro.
- Certamente, uma pergunta de extrema reflexão, poesia ou não, creio que tia Mariquinha, com seus bolinhos de bacalhau têm a maioria dos votos da nossa comitiva – respondeu o Poeta.
- Amém! – confirmaram Ademar e Zezé.
Alvorada já presente, a comitiva de amigos estendia suas reflexões entre garrafas de cerveja e alguns petiscos a beira rio, mas o bolinho de bacalhau de tia Mariquinha ainda prometia uma nova prosa.