segunda-feira, 27 de junho de 2011

Paixão pela Fiel

O sino tocava, enquanto um senhor se aproximava da matriz. Seus trajes, um velho hábito cinza surrado pelo tempo dava- lhe dignidade e respeito entre os transeuntes. A cidade conhecia aquele padre, das antigas, onde missa era celebrada em latim e de costas para a assembléia, além de outros ritos católicos. Seu nome trazia a marca de um mártir romano atrelado ao título de monsenhor. Sim, Monsenhor Jorge, padre da matriz Imaculada Conceição Aparecida.
Naquela manhã, de domingo, um clássico prometia um grande espetáculo. Dois times de grande renome nacional se enfrentariam no estádio do Paquembú em São Paulo. Corinthians versus Palmeiras. Monsenhor Jorge, fiel em Cristo, nutria outra paixão, mais profana, ao time do Corinthians.
A missa, às três horas, deveria ser celebrada com toda a reverência e fé. Monsenhor Jorge inicia o santo ofício:
- Sejam todos bem-vindos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
- Amém – responde o povo.
Durante as leituras, a primeira ambientada no Antigo Testamento, com a figura de Moisés encaminhando o povo no deserto após a libertação do jugo dos egípcios, enquanto a resposta do salmo, seguida pela segunda leitura, com apóstolo Paulo em suas cartas. O evangelho, de São João, mostrando as tentações durante a missão de Cristo. A homilia, convidando o povo a observar a fé diante as provações. À medida que se aproximava o fim da missa, Monsenhor escutava ao longe fogos, anunciando a decisão.
Quando Monsenhor, já nos anúncios da comunidade, iniciou a benção final:
- O senhor esteja convosco.
- Ele está no meio de nós – responde o povo.
- Por intercessão de São Jorge, mártir de Cristo, abençoe a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
- Amém.
O povo ao retornarem para suas casas estranhou a mudança da bênção, pois Monsenhor sempre invocava a Imaculada Conceição, mas aquele domingo o padre apelava da “ajudinha” de São Jorge para a vitória do Corinthians. Quando terminado o espetáculo, com resultado de 2 a 1 para a fiel, Monsenhor acendeu uma vela ao valente mártir, agradecendo a graça alcançada.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gestação


- Júlio, Júlio...
Marina insistia para que o marido acordasse. Em compensação, ele dormia num sono profundo. Marina e Júlio estavam casados há cerca de dois anos. Ambos desejavam ter filhos, mas como o esposo viaja muito, ela resolveu adiar o evento. Quando, em meados de setembro, no aniversário da sogra (dona Osvalina, mãe de Júlio), Marina revelou estar esperando um bebê. O futuro pai, empenhado em compras e cuidados para com a sua esposa, esqueceu do escolher um nome para a criança.
- Júlio, meu anjo, acorde, está nascendo...
- Nascendo?! Há essa hora? – ele, meio abobado pelo sono, sentou na beirada da cama, sentiu algo molhado – O que é isso?
- A bolsa que estourou, vamos benzinho; que dor – Marina sentia as contrações cada vez mais fortes.
Numa euforia, Júlio atravessou o quarto com Marina ao lado, pegou as chaves do carro e ambos partiram para o Hospital Santa Felicidade. “Não dava para acreditar, como passara rápida aquela gestação. Nossa, dentro de algumas horas, vou ser papai”, pensou Júlio.
Na entrada, duas técnicas de enfermagem auxiliaram Marina, enquanto seguiam para a maternidade. O médico plantonista examinou a gestante. “Sim, tinha chegado a hora. Mais um ser humano a povoar a terra, mais um consumista, mais um... Que nome?! Nossa qual o nome da criança mesmo?” pensou Júlio.
Já na sala de parto, o esposo desesperado e indignado por ter se esquecido de escolher um nome, ouviu um choro estridente. Sua filha nasceu. O médico, vindo em sua direção para cumprimentá-lo, disse:
- Parabéns papai, então, qual o nome?
Após alguns minutos, extasiado pelo choro, de volta a realidade, Júlio responde rapidamente:
- Amélia.
- Amélia?! – estranhou o doutor.
- Sim, é homenagem para a avó de Marina.

Quando cresceu, Amélia que era mulher de verdade...