terça-feira, 2 de agosto de 2011

Falecida

Domingo, às sete horas, telefone toca. Maurício e Lúcia assustam-se com a notícia. Tia Mariquinha falecera essa madrugada, vítima de infarto fulminante. Uma lástima para a família de Maurício. A tia era a primogênita de oito irmãos paternos. Já de idade avançada, não tivera marido ou filhos, fora sempre uma pessoa humilde e elo de união da família. Viera da Itália, ainda criança, com seus pais.
- Lú, nós vamos para o velório – decidiu Maurício, ainda pasmado com a ligação.
- Imagina, Maumau. Sua tia morreu no interior do Paraná, num pobre vilarejo.
- Lúcia, eu vou. Não adianta insistir, meu dever como sobrinho é estar ao lado dos meus familiares.
- Vá sozinho, eu fico com as crianças, aqui em casa.
Após resolver o impasse, Maurício partiu de avião ao Paraná, para o vilarejo do Bartimeu. Durante três horas de avião, mais duas horas de ônibus, Maumau chegou ao destino, à pacata cidadela. Um silêncio sepulcral cobria a Vila do Bartimeu. Olhou para os lados, a trinta metros do ponto estava o velório, anexo do cemitério.
“Que estranho”, pensou “onde estão meus parentes”? Aproximou-se e lá estava tia Mariquinha, doçura de alma, gélida e pálida; sozinha, sem parente algum. Sentado num banco na entrada, aguardava pacientemente o coveiro, Seo Sebastião.
- Boa tarde. Onde estão meus parentes? – indagou inconformado Maurício.
- Não sei não. Só veio o senhor mesmo – respondeu o coveiro com tranqüilidade - Doutor Oswaldo, o administrador do cemitério, quer falar com o senhor.
Ao lado do velório havia uma pequena sala, no interior estava sentado Doutor Oswaldo, esperando a chegada dos parentes da defunta.
- O senhor é parente da dona Mariquinha? – perguntou.
- Sim. É minha tia.
- É o seguinte, meu jovem, a taxa do velório, do enterro e do coveiro é de três mil reais. Se for vala comum, gaveta pública, você entende? Se for jazigo, o preço é de cinco mil reais.
- Três mil reais! Minha tia não tinha jazigo?
- Não.
- Tem algum banco na cidade?
- Tem sim, me acompanhe.
Após ter acertado a dívida, Maurício velou a tia até por volta das cinco horas. Seo Sebastião preparou o cortejo. Quando descia a defunta, Maumau chorava amargamente as despesas daquele dia. Durante alguns anos, ele deixou de freqüentar a casa dos parentes. Para ele, parente e custo são sinônimos.

Um comentário:

  1. É isso mesmo. Deus nos livre dos Hitleres que estão dentro de nós. Meus irmãos e minhas irmãs são os que me ouvem. Primo, seu texto está realista, forte e bem acabado. Como tenho problema semelhante em família, fogem-me o romantismo e chiste de sempre; mas essa experiência é mortal numa família. abç e de coração, com muito carinho e afeto a vc primo,alguém de coração e alma, dentre muitos cadaveres vivos que se veem por aí.

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