sábado, 13 de agosto de 2011

Questões da enfermagem

Olhe, enfermagem é doação, cuidado e assistência ao ser humano na doença em busca de recuperação. Num primeiro momento, a frase acima denota um discurso belo. Na prática, a realidade de assistência é vista sobre outra ótica. Basta recordar algumas reportagens exibidas pelos meios de comunicação, com a superlotação de pronto-socorros, ausência de profissionais e equipamentos inadequados, em que o indivíduo é posto à margem no atendimento, silenciado através de censura pelas autoridades locais.
Enfermagem é ponte de cuidados, onde um ser humano assiste o outro em suas fragilidades. Contudo, frágeis e delicados são alguns dos profissionais da saúde que mergulhados num ambiente caótico, sobrevivem com baixos salários, estressados por campainhas intermitentes e impossibilitados em suas atitudes por decisões empresariais. Enfermagem é trabalho coletivo entre diversos saberes. Selva de pedra dos cuidados, isto sim, onde o paciente é fragmentado para estudo da fisioterapia, enfermagem, nutrição e medicina, sem reconhecê-lo como sujeito dotado de vontade, razão e liberdade na escolha de tratamento.
Nas relações de enfermagem existe uma articulação de ações para o bem comum, entretanto há conflitos e disputas que envolvem questões de autonomia e poder de agentes. O atendimento com excelência depende das tarefas e deveres da própria função, do clima das relações entre direção e empregados, do salário, dos benefícios sociais e principalmente das políticas da empresa e do tipo de supervisão recebida. O profissional da saúde de grau técnico, maioria no país, precisa se organizar em associações na luta pelos seus direitos, em que patrão não sustente chapa sindical. Assim, trabalhos em turnos, cobrança e abuso de chefias condicionam o profissional da saúde a uma jaula, na qual o cliente/paciente é devorado durante o tratamento prestado. Diante disso, a gestão de saúde precisa cultivar o diálogo e o respeito entre as equipes, para que seja reconhecido o valor do profissional, onde o mesmo não seja somente uma peça de reposição de setores.

Texto publicado na seção Carta do Leitor do JP no dia 12/08/11.

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