segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ética e Política em Paul Tilich

Considerações acerca do ensaio “A Força de Eros No Pensamento Ético e Político de Paul Tillich” de Etienne A. Higuet mostra alguns pontos chaves no pensamento desse Téo - filósofo.

Para o Téo - filósofo, o amor é o poder iniciador e constitutivo da vida, pois revela o desejo ontológico de agregar os seres mais radicalmente separados, as pessoas humanas individuais. Ao distinguir o amor, o autor desmembra o mesmo em quatro qualidades: a primeira, a libido como o desejo de união com a realidade de modo a realização de si mesmo; a segunda, a philia, amizade em pé de igualdade entre pessoas; a terceira, Eros, desejo amoroso do que é inferior para o superior; e enfim, Ágape, desejo transcendente do amor religioso.
Paul Tilich demonstra que ágape está em superioridade nas demais qualidades do amor, visto ser primordial, pois é o elemento determinante e transcende a finitude do amor humano.
A concepção erótica está inserida nas diversas experiências, práticas culturais e relações do humano frente ao amor. Para o autor, Eros é a energia que impulsiona todas as realizações culturais e manifestações místicas, aparecendo como uma força ambígua e demoníaca, criador e destruidor ao mesmo tempo. Tilich retoma o conceito de gnosis, a união cognitiva, sexual e mística, onde o desejo erótico reúne o divino com o mundo natural e cultural.
Vale ressaltar que o imperativo moral, os mandamentos morais e a motivação da ação moral são de natureza religiosa, em que a graça, e não a lei, é a força única da ação moral. O ponto de partida encontra fundamento no ato do conhecimento, onde a comunhão se realiza na experiência participativa de uma pessoa com o outro individualizado e centrado. Para o teólogo, a relação EU – TU é a experiência que produz o reconhecimento da força obrigatória do imperativo moral. O outro si mesmo é o único limite, visto ser a vida moral uma relação “erótica” entre seres humanos no desejo de possuir e transformar numa realidade concreta existencial.
O desejo de dominação torna-se desejo de comunhão, onde o amor assume papel decisivo no critério de avaliação do comportamento moral e na autenticidade da justiça. A justiça é desvelada no encontro pessoal, em que há um reconhecimento da pessoa potencial como pessoa real. O amor liberta o humano das crenças, restrições e absolutismo da lei.
A moralidade verdadeira transpassa o sistema de recompensas e castigos, elevando o amor ao “bem em si”, o valor supremo. Assim, Paul Tilich dirá: “Da união de eros com ágape resulta uma preocupação moral informada pela graça, capaz ao mesmo tempo de ‘ouvir’ a situação particular e de orientar-se para o horizonte último do destino espiritual da humanidade. A graça cria um estado de reunião, no qual a separação do nosso ser verdadeiro e do nosso ser real é superada de modo fragmentário e o domínio da lei que comanda fica quebrado”. Para o téo – filósofo, o amor mediado na relação Eros – Philia, dentro do seio da comunidade produz uma condição sine qua non de paz na humanidade global, onde as forças eróticas tem um papel primordial no serviço de causa de justiça social e política, em vez de sustentar a opressão.
Eros é a ponte de passagem do pensamento a ação histórica responsável, onde existe a efetivação do kairos, o momento decisivo, atendendo as práticas sociais do humano.
A corporeidade e as relações de corpos como lugar de encontro entre humanos, faz com que pressupõe a existência de uma tensão, afirmada por Paul Tilich, entre identidade e participação, resultando num questionamento ético-moral. A ética está implicada na cultura e na experiência espiritual. Logo, a inserção do amor “erótico” nas relações sociais é conforme a manutenção de estruturas de poder e de uma ética participativa e construtiva.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um outro de si, um outro de outro e, no entanto, não há nenhum ‘eu’ e nem nenhum outro, somente um ‘entre’.

Levinas (filósofo)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Política e autoritarismo


Diante aos fatos recentes no Egito, a questão do poder e sua atribuição política na figura do atual governante Hosni Mubarak, mostra-nos diversas variantes nesse teatro político. Alguns filósofos como Foucault revela que a trama de poder, por trás da política, parte do fundamento que o “poder é visto como relação e não como um fim focalizado e determinado nas práticas sociais”. Juntamente, a socióloga Hannah Arendt diz que “o poder corresponde à habilidade humana não apenas para agir, mas para agir em concerto. O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido. Quando dizemos que alguém está ‘no poder’, na realidade nos referimos ao fato de que ele foi empossado por um certo número de pessoas para agir em seu nome”.
Assim, o regime autoritário existente no Egito demonstra uma figura opressora, com seus trinta anos de sucessão ininterrupta de poder rígido e abusivo. Um olhar atento verá que o governante Mubarak, usa de mecanismos de censura e toque de recolher, em alguns casos até de extermínio, podando a liberdade e justiça dos cidadãos do Cairo. Em contrapartida, os manifestantes ateam fogo em prédios públicos e fazem do protesto um grito pela liberdade do Estado.
A crise do Egito produz escassez de mantimentos, os aeroportos superlotados, sinais de telefonias bloqueadas, saques a estabelecimentos do local e vandalismo a órgãos públicos. Logo, a maldade de um só homem, no poder político, não poderá se perpetuar continuamente, visto que as autoridades locais e os manifestantes do povo devem encaminhar a renúncia do mesmo, de modo pacífico e mediado pelo diálogo, numa transição para a democracia.

artigo publicado na Tribuna dia 05/02/11