Andava rápido pelas ruas, atravessando as vielas com alguns trechos cobertos por vestes ao vento. As galinhas ciscavam no quintal, ao som do lamento triste de algumas mulheres. O sol castigava a região seca, onde os muros da cidade ao longe lhe davam considerada proteção contra as ameaças externas. Jerusalém, cidade de nossos pais, Abraão, Isaac e Jacó, há poucos dias, fora palco de umas das mais sangrentas crucificações sob o domínio romano. As autoridades dos judeus incitaram o governante local, Pôncio Pilatos, a executar impiamente o profeta Jesus de Nazaré.
Acometidos pelo medo de uma intervenção romana, os discípulos do Nazareno estavam reunidos em uma casa, com portas e janelas fechadas. De repente, um jovem adentra o local, com a face exausta e preocupada. Ao redor de uma mesa, senta-se o jovem, perto de dois anciãos que recordavam os últimos eventos. O cheiro adocicado de ervas, misturadas ao carneiro assado, despertava os discípulos. Na cozinha, Maria Madalena preparava as refeições, auxiliada por Marta e Maria, sua irmã. A vinda do senhor tardava, mas a esperança sempre se renovava a cada partilha do pão.
- Notícias, João? – perguntou um senhor, de meia idade, com poucos cabelos na fronte e barba grisalha.
- O sinédrio está em guerra, insatisfeitos com nossa presença em Jerusalém, Pedro. Os romanos intensificaram as buscas. Precisamos anunciar Kristos na região.
- Tenhamos calma e cautela. Jerusalém, ainda precisa do nosso testemunho – responde o patriarca.
- “Ide e anuncia a Boa Nova a todos os povos” – recordou João – Lembre Pedro, Kristos deixou este legado. Anunciar sua palavra a todos; semear a boa nova no canteiro do mundo.
Com testemunho e coragem, a comunidade nascente reunida na partilha do pão sempre mais avançava no anúncio de Kristos. Para os discípulos, o medo fora superado e purificado pela crença, Kristos vive; após séculos, suas palavras são ações para os menos favorecidos.